quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Do cometa ao relógio


Por Eduardo Coutinho

É difícil definir o que é o tempo. Vivemos eternamente no presente, criando o passado e esperando o futuro. Essa é a maneira mais intuitiva de descrevê-lo. Durante toda a história da humanidade, religião, filosofia e ciência tentaram elaborar um conceito preciso para ele e até hoje, se alguém pedir para que se diga em palavras o que é o tempo, uma dificuldade imensa se apresentará.

Às vezes, quando a linguagem falha, podemos recorrer às sensações, porque, na experiência, muito do que é percebido concerne ao indefinível. E o tempo para mim é assim, mais sentido do que dito. Quando leio uma notícia de um fato ocorrido há décadas, de certa forma me conecto com aquela época. Imaginando-a agora, ela passa a existir novamente.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Guardião de memórias: Eduardo Coutinho fala do livro de estreia e da paixão por antiguidades

Eduardo Coutinho

Eduardo Coutinho é um servidor público apaixonado por antiguidades e pelas artes. Colecionador de fotografias e objetos raros que contam sobre o Quixeramobim do passado, escritor sensível e de aguçado senso descritivo, artista plástico disciplinado, interessado em filosofia... a lista de atividades a que se dedica é longa. “Inquieto” talvez seja um bom adjetivo para esse jovem desbravador. E dessa inquietude tem resultado uma vasta produção nos últimos anos, incluindo a criação, em 2020, do Instituto Quixeramobim Histórico, projeto que toca ao lado da mãe, a professora de artes Ludmila do Rêgo, que conta com um acervo sem-número de fotografias e outros objetos de valor histórico. A ideia deu tão certo que o Quixeramobim Histórico acabou virando a principal referência quando se fala em museu digital na região, tendo realizado exposições próprias e contribuído com seu acervo para outros curadores.

Nosso guardião de memórias, em fevereiro deste ano, também lançou seu primeiro livro. E a trama não poderia ser outra, senão um romance histórico que se passa na Quixeramobim do início do século XX. Nas 102 páginas de “Eulália”, Eduardo Coutinho desenvolve uma história inusitada e envolvente, daquelas de ler devorando.

Em entrevista à Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes (AQUILETRAS), o autor fala de suas facetas, que o levam a transitar por diferentes formas de expressão. O bate-papo é conduzido pela acadêmica Gabrielly Frutuoso.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

ENTREVISTA: livro de Marum Simão terá 2ª edição - João Bosco Fernandes está a frente do projeto

Quixeramobim - Recompondo a História
1ª edição, 1996

A redação da Academia Quixeramobinense de Letras, Ciências e Artes (Aquiletras) entrevistou o seu membro-fundador, Prof. João Bosco Fernandes Mendes, ocupante da cadeira nº 1, cujo patrono é o escritor Manuel de Oliveira Paiva, autor da lendária obra ‘Dona Guidinha do Poço’. Na pauta está a reedição e ampliação do livro ‘Quixeramobim – Recompondo a História’, de autoria do também acadêmico Marum Simão (em memória). A obra teve a primeira edição lançada em 1996. Há alguns anos, Simão vinha trabalhando para lançar uma segunda edição, no entanto, sua morte, em julho de 2023, abortou esse plano. João Bosco Fernandes Mendes, amigo de longa data e parceiro de pesquisa, assumiu o projeto.

‘Quixeramobim – Recompondo a História’ consolidou-se como um dos mais importantes documentos históricos do município. À época de seu lançamento, foi impressa uma tiragem de mil exemplares, que rapidamente foi esgotada, tamanho o relevo da pesquisa de Simão. Hoje, até mesmo em sebos e lojas de raridades é difícil encontrá-la.

Nesta entrevista, conduzida pela acadêmica Gabrielly Frutuoso, Diretora de Relações Públicas e Publicidades da Aquiletras, João Bosco Fernandes revela informações sobre o andamento da obra, fala da relação de amizade com Marum Simão e menciona outras importantes obras para conhecer a história de Quixeramobim.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Um Museu de Pessoas

Dona Mundinha e Sr. Harding
Arquivo: Quixeramobim Histórico

Devido ao meu trabalho com pesquisas e à tentativa de descobrir mais sobre o passado e a história de Quixeramobim, já visitei uma quantidade significativa de pessoas e famílias. Gente que me recebe em suas casas e abre suas portas para mostrar o que há de mais preservado em suas intimidades. E isso é, de certa forma, um estranhamento. Encontrar pessoas até então desconhecidas e, de repente, adentrar nas suas melhores lembranças me fez refletir sobre os sentimentos que carregamos ao longo da vida, em especial aqueles que resistem protegidos do esquecimento.

Mas o que é que elas me mostram, afinal? Geralmente, após uma breve apresentação de quem sou e do meu trabalho, a pessoa pede alguns minutinhos, desaparece por um cômodo mais afastado numa caminhada esquecida e, em seguida, volta com uma caixa empoeirada, ou com uma pasta amassada e já desbotada, que logo denuncia a sua antiguidade. Na mesa da sala, ela vai espalhando os registros e começa a mostrar as fotografias, quase sempre em preto e branco. Fotos da infância na calçada da casa que já não existe mais, das férias com os primos que foram morar distante e nunca mais se viram, ou da primeira comunhão com um padre que já morreu. Retratos de festas de carnaval com fantasias são comuns. “Olha esse vestido, que lindo!”. Uma pose do dia da formatura no colégio agora é difícil de ver por causa das manchas no papel. Narra as histórias olhando para algum ponto no horizonte, com um leve sorriso no rosto. Parece estar vivendo aquele prazer novamente. Ela sopra a poeira da foto e limpa delicadamente com o dedo. O passado tão próximo.

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Carta-Prefácio

 

Quixeramobim, 04 de julho de 2023

Querida Nice Arruda, pax et bonum.

Hoje pude sentar com sossego e escrever para você. É madrugada e eu estou na minha biblioteca ouvindo Ode à alegria, da 9º sinfonia, de Beethoven. Recebi com muito entusiasmo e certa vaidade – tudo é vaidade – o convite para escrever o prefácio, mas como acho que não sou bom em prefácios, resolvi escrever uma espécie de carta, ou antes, uma carta-prefácio, se é que isso existe. Confesso: gosto mais de cartas que de prefácios.

Toda boa literatura é, no fundo, autobiográfica, disse certa vez Jorge Luis Borges, e essa foi também a mesma sensação que experimentei ao terminar de ler os originais de seu novo livro, Os dias que tive, que li de um fôlego só. Escritas com espontaneidade e simplicidade – mas uma simplicidade laborada – as suas crônicas são límpidas e atraentes, provocando inveja e benção no leitor.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Pequenas memórias afetivas de um leitor de Tex Willer

 

Sou um colecionador de Tex, Zagor e Ken Parker, tenho pilhas de revistas na minha biblioteca (tudo desorganizadamente organizado). Ao lado dos romances do Jorge Amado e do Paulo Coelho, Tex talvez seja a leitura mais marcante de minha adolescência. Eu comecei a ler vorazmente o gibi por conta do meu irmão, João, que ainda hoje coleciona. Recentemente encontrei num sebo – todo sebo que se preze tem que ter uma estante de Tex – o livro TEX NO BRASIL – O grande herói do faroeste, de G. G. CARSAN. Comprei sem pestanejar. A obra, fruto de uma análise criteriosa, traz curiosidades, estatísticas, relatos de leitores, memórias do autor e uma infinidade de informações sobre o personagem.  
 
Tex é um gibi que sobrevive por suas muitas qualidades. Na minha opinião, uma das principais é que nas aventuras pulp de antigamente, sobretudo, quando ambientadas no velho oeste, um mecanismo para gerar suspense e interesse era colocar o herói em risco de vida. Risco sempre falso, pois ele precisa sobreviver no final. Tex abre mão desse trunfo. Os protagonistas (O ranger Kit Carson, o índio Jack Tigre e o filho Kit Willer – parceiros do Tex) quase nunca tomam um tiro – assim como o cavalo Dinamite. Desse modo a revista assumiu a premissa de que eles são “imortais” e não correm riscos sérios. Com essa restrição, ela precisa gerar interesse de outras formas – a engenhosidade, inteligência, ou a persistência de Tex, por exemplo. Algumas histórias são excepcionais com toques de ficção científica e literatura fantástica, e extrapolam a estética do faroeste. 
 

sábado, 29 de junho de 2024

Queria que soubesse que pensei em você

 
Acervo Quixeramobim Histórico

Toda vez que tenho em mãos uma fotografia de tempos distantes e a contemplo, vem-me um aperto no peito, algo semelhante a uma aflição. Ainda não sei definir muito bem que sensação é essa, se boa ou ruim. O que é a mistura entre o prazer e a angústia? Talvez seja isso, e então não precise definir.
 
Ao olhar a pessoa desconhecida naquela foto, de imediato, irrompe em minha mente um turbilhão de pensamentos sobre aquela vida que já não existe mais. Tudo ao mesmo tempo, como se fossem filmes simultâneos e em alta velocidade. São instantes de segundos. Preciso dizer que no pensamento o tempo é relativo.