Andorinhas, bem-te-vis, corujas,
freirinhas, pica-paus, sabiás, tico-ticos... não sou capaz de eleger uma ave preferida,
já que todas me causam fascínio, seja pela exuberância das cores ou pela
sinfonia orquestral que produzem. Mas certamente posso elencar as mais desejadas
para um clique. As ariscas e as raras na região, cujo registro é uma façanha –
o troféu do fotógrafo – são também as mais cobiçadas. Dentro do que já
cataloguei, talvez o Pica-pau-de-topete-vermelho (Ampephilus Melanoleucos),
que ilustra esta publicação, seja meu maior feito. Na verdade, não é o
fotógrafo quem captura pássaros por meio de suas lentes, mas, sim, é capturado por
eles. Essa ave me capturou desde o ano passado, quando me deparei com ela pela
primeira vez, no carnaubal do Salva Vidas, em Quixeramobim. O tamborilar forte
no tronco das carnaúbas ecoando de dentro da mata denunciava sua presença imprevista.
Eu, até então, só dava conta de pica-pau no desenho animado de minha tenra infância.
A magia acontece sob
chuva ou sol ardente, mata adentro. Óculos embaçado, mosquitos, insolação,
touro valente na estrada, cachorro atrevido latindo. A foto extraordinária tem
seu custo. A natureza exige precauções, pois, apesar de bela, oferece seus riscos,
desde picadas de mutucas traiçoeiras, ataques dolorosos de maribondo, até o
perigo real de serpentes. Um par de botas, chapéu, roupas que cubram bem o
corpo, preferencialmente com estampas que permitam camuflar-se por entre o
verde da mata, e protetor solar fazem parte dos paramentos de um fotógrafo de
vida selvagem.
Os ponteiros do relógio
correm na mesma velocidade para todos, mas os dias podem ser mais calmos conforme
o ritmo que damos a eles. Fotografar aves silvestres pode ensinar até mesmo
essa valiosa virtude humana: a da calma. O tempo da natureza sobrepõe-se ao
ritmo dos homens. O clique espetacular não acontece quando queremos, mas quando a
ave permite. Eis aí o exercício da paciência, raridade na era das coisas prontas.
Os domingos verdes são o respiro para não enlouquecer frente a afobação do
mundo de concreto. Ademais, em tempos de
egos inflados e selfies sem graça, sou mais tirar foto de passarinho.
Gabrielly Frutuoso
Nenhum comentário:
Postar um comentário