Há momentos na vida que a gente não esquece. Momentos felizes. Momentos tristes. E também os momentos cômicos costumam nos marcar. Pensando nisso, outro dia me lembrei de um dos maiores micos que já paguei.
Conto.
Na Bienal Internacional do Livro de
Fortaleza (2017) fui assistir uma palestra, no Centro de Eventos do Ceará, do
renomadíssimo escritor Ignácio Loyola Brandão – que é um dos meus imortais
heróis literários. Na adolescência eu li quase tudo que ele escreveu, e nunca
imaginei que fosse encontrá-lo pessoalmente. Estava super ansioso. Me programei
com antecedência, marquei na agenda, tudo certo. Mas o trânsito não colaborou e
cheguei no evento atrasado. Entrei no salão correndo encurvado, meio abaixado,
justamente para não chamar atenção e nem atrapalhar o grande público que fazia
um sepulcral silêncio ouvindo de forma compenetrada o escritor. Atoleimado
tropecei em algo, caí, derrubei os livros que carregava e meu celular voou
longe. Lembro da cena e da indescritível cara do Loyola Brandão, que estava
sentado falando sereno ao microfone, e meio que assustado com o “rebuliço” que
causei, foi se levantando no intuito de me ajudar a juntar os pertences
espatifados, dizendo:
“- Calma garoto, tá tudo bem aí?”.
Todo mundo na sala olhou pra mim.
Respondi desconcertado, tomado de vergonha, quase balbuciando:
"- Tá, tá sim, tudo bem, não me
machuquei…”
Encabulado, me recompus, sentei e assisti o resto da palestra. E como se nada tivesse acontecido fiz uma pergunta quando o microfone foi aberto para a plateia.
Logo após a sessão de autógrafos, a
professora Vânia Vasconcelos, que mediava o evento me apresentou ao escritor.
Foi bastante emocionante conhecê-lo. Brandão é carismático, simples, atencioso
e engraçado. Um grande contador de “causos”, lembrou de quando foi palestrar na
pequena cidade de Ocara. Leitor de Os Sertões, conhecia “de nome”
Quixeramobim.
Nunca esqueci que ao me apresentar, Vânia lhe disse que eu era um bom cronista, e ele, de pronto, sugeriu:
“- Hoje você tem matéria-prima
para uma ótima crônica, a sua cênica entrada no salão. Aquilo foi triunfal. Não
deixe de escrever!”.
Caímos todos na gargalhada.
Bruno Paulino é escritor
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