Os Sertões em Cordel Stelio Torquato Lima |
***
A obra Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, é indiscutivelmente um dos maiores clássicos literários nacionais. O livro é apontado por muitos estudiosos, de diversas áreas do conhecimento, como “a bíblia de nossa nacionalidade”. Euclides viu em Canudos uma das mais estupendas manifestações de coragem do homem brasileiro, sobretudo, do povo sertanejo, que lutou e resistiu a três sangrentas expedições militares, caindo, de pé e heroicamente, na quarta e apocalíptica investida.
Dono de um estilo sem-par, irretocável e grandiloquente, toda a estrutura da obra euclidiana, dividida em três partes – A terra, O homem, A luta –, se enquadra num movediço de mosaicos, em permanente flutuação de imagens e cenas, com alongadas e minuciosas descrições. Um verdadeira obra-prima. Portanto, foi com a coragem dos bons, e consciente da empreitada, monumental que iria enfrentar, que o renomado poeta Stélio Torquato Lima impôs-se o desafio de verter para o cordel o livro vingador.
Já experimentado de outros trabalhos de adaptação de clássicos literários para o cordel, como Macunaíma, de Mário de Andrade, e... E o vento levou, de Margaret Mitchel, o resultado não poderia ser diferente, e Stélio Torquato Lima oferta agora ao leitor uma memorável peça literária ao versejar Os Sertões.
Mantendo-se fiel ao estilo consagrado de Euclides da Cunha, mas com a liberdade de quem é poeta, Stélio Torquato reescreveu a saga de Antônio Conselheiro e seu povo em 4.452 versos, distribuídos em 636 setilhas setissilábicas com um fôlego narrativo invejável.
Como forma de permitir ao leitor uma reflexão sobre as ideias que Euclides da Cunha defendia à época da escrita da obra, incluindo sua recepção às hoje questionáveis teorias eugenistas, o adaptador lançou mão de um recurso interessante, franqueado pela licença poética dada a produções ficcionais: transformou o autor em narrador do texto, um narrador que, olhando para a própria obra com os pés no presente, constantemente parece pedir desculpas por algumas dessas teorias que abraçava.
Por tudo isso, creio que a presente obra, além de prestar louvores ao trabalho de Euclides da Cunha, proporcionará aos leitores uma sempre necessária reflexão sobre o massacre de Canudos, que marcou a história nacional, e é ainda hoje uma chaga viva no seio do povo nordestino.
Boa Leitura!!!
Bruno Paulino é poeta e escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário