Conheci Marum Simão na improvisada quadra de voleibol no terreno contíguo à antiga sede da Prefeitura Municipal de Quixeramobim. Em período de férias, todas as tardes alguns jovens praticavam o esporte naquele espaço. Eram presenças constantes José Marques Netto, meu saudoso irmão, o Gaía, os irmãos Leorne e João Belém, os irmãos Antônio, Alfredo e José Airton Machado, os irmãos Moacir, Jorge e Marum Simão e outros que as brumas da minha memória remota já não me permitem citar.
Marum Simão pertence a uma família de libaneses de caráter sem jaça.
Alguns de seus irmãos optaram por dar continuidade à profissão de seu pai José
Simão, um honrado comerciante. Marum tornou-se educador e nessa condição
prestou relevantes serviços a Quixeramobim, como professor e diretor do Colégio
Estadual Dr. Andrade Furtado, Secretário Municipal de Educação de Quixeramobim
e também como titular da 1ª. DERE em Fortaleza.
O meu pai e o decano da família Simão eram comerciantes de tecidos e,
consequentemente, concorrentes. Mas, acima de tudo, cultivavam a ética,
mantinham uma relação de amizade e lealdade. Duas vezes por ano, nos meses de
maio e dezembro, viajavam juntos para Recife. Lá adquiriam tecidos para repor
os estoques tendo por objetivo as vendas da festa de Santo Antônio e do final
de ano. Em Recife, adquiriam as mercadorias nos atacadistas Pedrosa da Fonseca
e Tecidos Cardoso S.A., que depois mudou de nome para As Nações Unidas.
Fretavam 2 ou 3 caminhões e completavam a carga em Campina Grande nos armazéns
de Abdala Noujaim, um parente dos Nógimos de Quixeramobim. Compravam tudo no
crédito através de promissórias para pagar com noventa dias sem juros e sem
correção monetária.
Afirma o Evangelho que se conhece a árvore pelos frutos que ela dá, por
essa razão, detive-me neste preâmbulo para expressar toda a minha admiração
pela família Simão e, particularmente, pelo Marum Simão, a quem considero meu
mestre de muitas lições de vida e dignidade. Ele é credor de uma dívida
irresgatável. Em hora difícil de minha vida me socorreu. No ano de 1982
regressei à Fortaleza desempregado. O então deputado Leorne Belém resgatou um
antigo contrato de professor do Estado. Apresentei-me na Escola Paulo Benevides,
para onde fui indicado. Participei do planejamento e ao comparecer para cumprir
meu primeiro dia de aula, fui surpreendido pela informação da diretora de que
havia sido devolvido por ela para a 1ª DERE. Não explicitou o motivo. Lamentei
a maneira arbitrária e deselegante de seu gesto inopinado e desumano.
Encaminhei-me para a 1ª DERE que, para o meu conforto e para minha alegria, era
comandada pelo professor Marum Simão. Conhecedor do fato, Marum, de imediato,
fez algumas ligações na minha presença, exaltando e até exagerando sobre a
minha competência. Estava correndo o risco de apostar no desconhecido. Saí da
reunião efetivamente lotado e empregado na Escola Marvin, uma escola de
referência situada no Bairro N. S. das Graças, onde permaneci até o ano de 1987,
quando assumi a direção da Faculdade de Quixadá. Em suma, ao Marum Simão e ao
Leorne Belém devo o meu retorno ao magistério, após 11 anos de afastamento
compulsório. Marum Simão e Leorne, Belém, dois ex-alunos de minha mãe,
professora Maria Elnir, me reconduziram pela trilha do magistério oficial. E
aquele recomeço alentador redirecionou minha vida e me levou, através de
concurso de provas e títulos, ao magistério na Universidade Estadual do
Ceará.
Quero lembrar Marum Simão como anfitrião e “mestre de cerimônias” nas
festas do Padroeiro Santo Antônio, em Quixeramobim. Percorria todas as mesas do
barracão, apresentando-se e sendo apresentado a todos os conhecidos e
desconhecidos que, eventualmente, estavam visitando a nossa terra. A pandemia e
outras enfermidades impediram que Marum estivesse em Quixeramobim nos últimos
anos. E aquele anfitrião cordial fez falta e vai continuar fazendo.
Há perdas que são inaquilatáveis. A perda de Marum Simão é uma delas. Dotado
de um extraordinário conhecimento da história de Quixeramobim, parte e leva
consigo precisas informações não apenas do conteúdo de um livro. Na expressão
da querida amiga acadêmica Ana Maria Fernandes, “com ele vai uma biblioteca
inteira”.
De Marum Simão, o mestre de todos nós, fica um precioso legado de
dedicação à terra natal, de honradez, generosidade, de relevantes serviços
prestados como educador, de sua contribuição na reconstituição de nossa
história, em que ele foi, sem dúvida, um proeminente protagonista.
Parafraseando Bertolt Brecht: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há
outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito
bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. Marum Simão
lutou a vida inteira e agora descansa em paz na morada do Senhor.
Meu abraço solidário aos seus familiares e amigos.
Gilberto Telmo Sidney Marques
Fortaleza, 12 de julho de 2023
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