Tentava e não conseguia escrever nada que julgasse bom para concorrer no concurso.
Fiquei ansioso. Preocupado.
O que fazer?
Passei dois dias em crise de ansiedade.
Nem dormia, nem comia. Não queria ir para a escola. Minha mãe achou que estivesse doente...
O prazo para inscrição estava prestes a ser encerrado, e eu nada de dar luz à poesia.
Já tinha gasto uma resma de papel, enchido a lixeira. O poema não saia.
Durante
a aula subsequente o professor me procurou, disse que aguardava meu poema até o
fim do dia. Convicto de que não iria conseguir produzir, tive a malfadada ideia
de inscrever no concurso um poema que eu não tinha escrito.
Corri à biblioteca da escola e não hesitei, peguei um livro do Vinícius de Moraes e copiei trechos do poema “Amizade Inseparável”, modificando o título, algumas palavras e a ordem de alguns versos.
Assinei meu nome.
O plágio estava perfeito. Entreguei trêmulo o poema e a inscrição ao professor.
Nenhum jurado perceberia o plágio. E nenhum jurado percebeu. A internet engatinhava naquele tempo, e esse poema nem de longe é dos mais conhecidos do “poetinha”. Resultado: tirei 2° lugar no concurso. Diante de todos os alunos reunidos no pátio da escola recebi uma medalha, um diploma, um livro e uma caixa de chocolates.
Felizmente não tive de recitar o poema.
Mas me senti mal.
Acordei no outro dia para ir à escola com remorso. Não consegui me concentrar nem prestar atenção na aula de Português. Estava arrependido da farsa, mas também não tinha coragem de contar.
No fim da aula, após o toque da sineta, corri ao encontro do professor que organizava suas coisas no birô antes de sair.
Contei que tinha plagiado o poema e como o tinha feito.
Ele sorriu e disse:
“- Tudo bem, mas não faça mais isso. Trapacear nunca é legal mesmo que por uma boa causa. Mas, Bruno, os poetas roubam. Copiam estilos de outros poetas. Você plagiou Vinicius de Moraes do seu modo, quando interferiu no poema, acrescentou, cortou, mudou palavras de lugar e o poema meio que virou seu também, adquiriu novos sentidos.”
Nesse dia aprendi algumas lições de honestidade e poesia.
Depois, lendo o romance O Carteiro e o Poeta, de Antonio Skármeta, descobri que: “a poesia não pertence a quem a escreve, mas aqueles que precisam dela.”
E nunca mais plagiei Vinicius de Moraes.
Por
Bruno Paulino.
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