Voltei a São José do Rio Pardo, “a meca do euclidianismo”. Dessa vez para dar aulas no Ciclo de Estudos da Maratona Intelectual Euclides da Cunha, experiência para mim, até agora, indescritível. Participar da Semana Euclidiana (de 9 a 15 de agosto de 2023), rever as águas poéticas do Rio Pardo, a cabana de zinco e farrapos no recanto euclidiano, caminhar pensativo sobre a ponte que Euclides da Cunha reconstruiu e ter a possibilidade de fazer isso na companhia dos amigos: Ailton Siqueira, Pedro Victor, Pedro Igor e Sara Souza, foi na significação integral da palavra, magnífico.
Antes de chegar a São José,
aportamos em São Paulo (08/08), e lá participamos à noite de um ato com a presença
da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, no Teatro Oficina, em prol da
criação do Parque Cultural-Ecológico do Bairro do Bixiga, sonho-profecia do
utopista revolucionário José Celso Martinez Corrêa, homem-multidão do teatro
brasileiro, agora encantado. Impossível não relembrar a montagem da peça Os
Sertões em Quixeramobim, no longínquo ano de 2007. Após ver o
espetáculo aquela época, lembro de correr à Biblioteca Pública, pegar o livro
de Euclides da Cunha e imergir na leitura. Depois disso, brinco dizendo que
nunca mais tive juízo. Foi através de Zé Celso e do Teatro Oficina que tomei
contato com Euclides da Cunha e Os Sertões.
Sempre que viajo escolho um livro para encarar as horas de espera no aeroporto e fugir do tédio no hotel, dessa vez viajei acompanhado de “Euclides da Cunha: Esboço biográfico” (2° edição, 2019) de Roberto Ventura. O livro póstumo, organizado por Mario Cesar Carvalho e José Carlos Barreto a partir de arquivos localizados no computador do autor – pois Ventura, infelizmente faleceu antes de terminar o texto, num trágico acidente voltando da Semana Euclidiana de 2002 – me chamou muita atenção; sobretudo, pois Roberto Ventura propõe uma leitura muito particular de Antônio Conselheiro, com ênfase, nos escritos de Euclides da Cunha, para ele, o beato de Quixeramobim, seria um personagem ficcional, sem fidelidade histórica, e, antes pode ser lido como uma projeção das obsessões do escritor de Os Sertões.
Segundo Mario Cesar, Roberto Ventura “construiu uma imagem borgeana, o duplo Euclides-Conselheiro” na biografia que escrevia. Conversei muito via whattsapp com o amigo Osvaldo Costa (psicanalista) sobre essa interpretação, ele me lembrou que Zé Celso criou no seu espetáculo o encontro entre Anna de Assis e Brasilina, como se Euclides e o Conselheiro se olhassem em suas dores. Seriam dois grandes homens refletidos pelo seu avesso? Incomunicáveis, mas de alguma forma refletidos um no outro. Fiz várias anotações e rabiscos no livro, sistematizando minhas dúvidas durante a viagem.
Quando chegamos a São José (09/08), a primeira pessoa que reencontrei, na recepção do hotel, foi a querida amiga Rachel Bueno, logo guardei as coisas no quarto e desci para conversar com ela, rapidamente já confabulávamos sobre Joana Imaginária, a mística figura do universo conselheirista por quem devotamos comum admiração, e sobre quem Rachel escreveu um belíssimo conto. De lá seguimos para o desfile cívico, uma verdadeira aula a céu aberto, pelas ruas da cidade. Ao fim do desfile, a poetisa Cidinha Granado, confessou-me: “–Bruno, estou emocionada, mas poeta tem coração mole para chorar, né?”. Respondi: “–Também estou emocionado”, e assim, de fato, foram muitos momentos durante toda semana euclidiana: emocionantes. Mas, nada me marcou tão profundamente quanto ministrar aulas para crianças e universitários sobre Euclides da Cunha, Conselheiro e Canudos, uma experiência bonita de viver, com a qual aprendi muito mais que ensinei. E como já disse, não consigo dimensioná-la muito bem ainda.
Por fim, lembro de Dona Rosângela
(que igual a mim é devota de Santa Teresinha) nos presenteando com uma cachaça
produzida em São José do Rio Pardo, e ao degustar a aguardente, já em
Quixeramobim, pensava nos amigos de Semana Euclidiana: Marcos De Martine,
Cidinha, Ana Paula, Dona Carmen, Nicola Costa, Camila da Cunha, Maria Olivia,
Leandro e toda turma de Cantagalo, e tinha comigo umas poucas certezas: São
José do Rio Pardo voltarei…E que cachaça boa!!!
Por Bruno Paulino, escritor.
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