Estou voltando, sozinho, da tua Fazenda Não Me Deixes, para onde fui te levar. Cumpriste hoje intensa programação. Recebeste a chave da cidade. Depois o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Ceará na Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central.
As lembranças me remetem à infância. No Colégio Salesiano fui proibido de ler O Quinze. Estava no índex: eras comunista.
Conheci-te através da Revista O CRUZEIRO, na companhia de Gustavo Barroso, Austregésilo de Athayde, Carlos Estevão, Péricles, David Nasser e tantos outros. A minha leitura da revista começava sempre pela última página. Guardo na memória o artigo A COLA ELETRÔNICA.
Alunos do curso de engenharia de Ouro Preto montaram uma emissora clandestina de ondas médias. A partir de então, os lares da cidade e o éter de Minas foram invadidos por informações as mais diversas de interesse localizado. Era a RÁDIO CABACINHA, a serviço da fraude, utilizada para transmitir a “cola” ou a “pesca” durante as provas da Faculdade. Lamentava a professora Rachel não fossem o talento, a inteligência e o tempo empregados a serviço de uma causa nobre.
Encontrei-te já em 1987. Tempos difíceis. Os cursos superiores de Quixadá, Itapipoca e Crateús estavam cassados pelo Conselho Federal de Educação. Vivíamos o pesadelo atroz da ameaça real de fechamento das Faculdades do Interior, do eclipse total. Procurei-te angustiado em Não Me Deixes, a nossa Pasárgada.
Comprastes a nossa briga junto aos teus amigos do Conselho Federal de Educação. As dúvidas foram dissipadas. A ação solerte dos inimigos da Faculdade foi anulada. A batalha foi vencida. As Faculdades foram salvas. O projeto educacional do Sertão Central também.
Ao te encontrar hoje pela manhã, comovido como das outras vezes, escutei de ti: “estava com saudade”. Há pouco tempo eu te trazia para o teu refúgio. Conversamos ao crepúsculo. Palavras sobre a seca. Pedias a minha opinião sobre a venda de teu gado. Como se um humilde professor, nunca possuidor de um simples borrego, pudesse opinar sobre o assunto.
Estou escrevendo para te aperrear outra vez. Li no jornal o teu apelo ao presidente da República. Insiste! A seca de 1993 é crudelíssima. Nunca vimos coisa igual. Os rebanhos estão deixando o nosso Sertão. Os açudes estão secos. O povo padece de fome e sede. Nunca o quadro foi tão cruel. Insiste Rachel! O teu povo está sofrendo além da conta...
Na minha tristeza da despedida me dissestes: “Pede a Deus para fazer chover. Eu volto logo”.
Vou pedir. Estou com saudade. Um beijo.
(Publicada no Jornal O POVO em outubro de 1993)
Gilberto Telmo Sidney Marques
Perfeitamente cativante o carinho do cunhado TELMO pela autora do 15. Rachel, uma beleza de gente do Ceará, nossa 1º imortal da ABL. Merecedora da distinção feita pelo professor GTELMO. Ela que residia também no Rio de Janeiro, mas nunca esquecia sua casa em Quixadá. Vivia em Fortaleza, Quixadá e no Rio de Janeiro. Três lugares do seu coração, sempre pulando de um para os outros e vice-versa. Nunca será olvidada, não só pelos cearenses como também pelos brasileiros de ponta a ponta. Escreveu o Ceará e o Brasil, brilhando sempre nas letras como grande vedete da língua de Camões. Salve Rachel de Queiroz!
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