Esta é uma história acontecida no ano de 1955. Naquele ano ocorreram eleições gerais para vários cargos, incluindo presidente e vice-presidente da República. Para presidente concorreram: o ex-governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek (PSD/PTB/PR/PTN/PST/PRT); o marechal cearense, Juarez Távora (UDN/PDC/PL/PSB); o governador de São Paulo, Ademar de Barros (PSP - Partido Social Progressista); e o líder integralista Plínio Salgado (PRP – Partido de Representação Popular). Os dois maiores partidos no Ceará eram o PSD e a UDN, que se digladiavam em tempos de eleição. Vislumbrando a possibilidade de ter um Presidente da República cearense, o PSD deixou de lado a tradicional rivalidade e se uniu à UDN. O bairrismo uniu adversários históricos em torno do marechal. Estavam udenistas e pessedistas empenhados em garantir uma boa votação para Juarez no Ceará.
Já quase no final da campanha, o candidato estava percorrendo o Estado do Ceará em um trem especial com um vagão dotado de cozinha, refeitório e dormitório. O chefe político udenista de Quixeramobim recebeu um telegrama confirmando a data e a hora da passagem do trem. No início da noite de um certo dia de setembro, a população, convocada pelo eficiente serviço de alto falantes A Voz de Cristal, do saudoso Fenelon Câmara, acorreu em massa à estação. O trem atrasou muito a chegada à Quixeramobim, o que obrigou o gerador da luz a funcionar até a madrugada. Lá para as tantas o trem chegou. A multidão aglomerada na calçada da estação esperava ver o candidato que dormia no vagão especial e não podia dar o ar de sua graça. Os presentes sentiram uma grande frustração, mas os correligionários trataram de apaziguar os ânimos alegando que o candidato já era idoso e estava bastante cansado. A muito custo conseguiram os líderes políticos conversar com um assessor do marechal e a ele entregaram um piru assado preparado com o maior capricho, talvez pelo talentoso cozinheiro Antônio Barbosa de Lemos, o saudoso Antônio da Maria Águeda. O trem partiu levando o precioso galináceo e os desolados e potenciais eleitores inconformados rumaram para as suas residências.
Mas, no dia seguinte veio o desencanto e a indignação: o Maleagris Gallopovo, o tal peru, foi encontrado no leito seco do rio. Os assessores do candidato jogaram pela janela do trem o caprichado presente do povo de Quixeramobim. O troco veio na eleição. Mesmo sendo o mais votado individualmente, Juarez teve menos da metade do total de votos, considerando os votos em branco e os nulos.
Segundo os arquivos do TRE do Ceará, os resultados na seqüência decrescente foram: Juarez (2.366 votos), Juscelino (2.328 votos), Ademar de Barros (289 votos) e Plínio Salgado (135 votos). Votaram em branco 117 eleitores e 179 anularam o voto. Em resumo, deixaram de votar em Juarez 3.048 eleitores.
Após o golpe militar, Juarez ocupou o Ministério da Viação e Obras Públicas, de 15 de abril de 1964 a 15 de março de 1967. Segundo consta, não trouxe nenhuma benfeitoria para o Ceará. Os pessedistas nunca mais se associaram aos udenistas no nosso estado e criaram um slogan usado durante muitos anos. “Meu bisavô já dizia: havendo outro não vote em Távora”.
Por
Gilberto Telmo Sidney Marques
Professor
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