Devaneios de uma distopia artística
Num futuro não tão distante,
chegará o tempo da absoluta criação artística pelas máquinas, e assim será
decretada a abolição completa da produção criativa humana. Consolidar-se-á o
império artístico dos instrumentos autônomos.
Nesse tempo dominado pela
inteligência artificial, ilustrações, pinturas e desenhos serão feitos com
perfeição geométrica hipnotizante. Literatura, filmes e séries disporão de
gatilhos dopamínicos que não deixarão o sujeito piscar os olhos em frenesi.
Músicas conterão ritmos tão bem concatenados por algoritmos, que elas não
sairão das mentes dos ouvintes por dias a fio, mais parecendo um encantamento.
Tudo isso fará com que qualquer tipo de trabalho artístico originado de um ser
humano seja descartado e caia completamente na obsolescência. Nesse futuro
próximo, as pessoas serão viciadas em algo que ainda é desconhecido da
humanidade, a completa perfeição da produção artística.
O encontro com a perfeição será
um acontecimento disruptivo. Por toda a história da humanidade, o que se
conhece é apenas a busca contínua pela excelência em cada ofício. O infinito
aprimoramento da obra. É essa busca o que move o artista, que sempre tenta, mas
não a alcança, pois ele é humano. Michelangelo certa vez até acreditou que
atingira a perfeição, quando olhou para seu Moisés de mármore, e, batendo-lhe
com um martelo após tê-lo finalizado, gritou encantado: “por que não falas?”.
Nesse futuro próximo a arte dos
homens definhará até o total esquecimento. As pessoas, inebriadas pelo
impecável, recusarão apreciar um quadro feito por um semelhante, com todas as suas
idiossincrasias, e preferirão contemplar a arte singular produzida pela
inteligência plena. E é assim que ela será chamada, porque nesse futuro que se
avizinha não se usará mais o termo “inteligência artificial”. Como chamar de
artificial algo que não tem defeitos? Será pois denominada de plena.
Nessa nova era os seres humanos
serão consumidores passivos da produção artística tecnológica. Não existirá
mais nada feito por qualquer gente, tudo será feito pelas máquinas. No círculo
viciante desse novo modo de consumir, tudo será tão impecavelmente elaborado,
que nada que não tenha a perfeição vingará. O trabalho humano defeituoso
restará relegado ao esquecimento, tido apenas como um exemplo do que um dia foi
a arte, apenas uma etapa da evolução. Um capítulo nos livros de história.
Mas no submundo do período da
inteligência plena, ainda existirá um grupo de humanos resistentes. Escondidos,
negar-se-ão a consumir material de máquina, e garimparão nas ruínas de galerias
e museus, no grande lixo da história humana, aquilo que já foi considerado
excelente e passou a ser dito imperfeito e desprezado. Encontrarão afinal o que
já foi arte. A nossa arte. Serão os consumidores do defeito, os viciados na
humanidade.
Eduardo Coutinho
Não sei se chegaremos lá nessa perfeição do IA. A coisa está tão vexada que podemos acabar antes. O relógio está fechando e talvez tenhamos pouco tempo em pensar nisso. O mundo armado até os dentes e quando despejarem esses canhões atômicos no planetinha, nada poderá restar. O círculo está se fechando e pode não restar tempo para os efeitos da IA. Uma coisa é certa, se a IA fizer tudo, a maioria da mão de obra será jogada aos porcos e como fica o custeio dos lares pobres. Alguém já disse mesmo que a aldeia global será dominada pelas máquinas. Vamos aguardar os acontecimentos!!!
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