quinta-feira, 4 de julho de 2024

Pequenas memórias afetivas de um leitor de Tex Willer

 

Sou um colecionador de Tex, Zagor e Ken Parker, tenho pilhas de revistas na minha biblioteca (tudo desorganizadamente organizado). Ao lado dos romances do Jorge Amado e do Paulo Coelho, Tex talvez seja a leitura mais marcante de minha adolescência. Eu comecei a ler vorazmente o gibi por conta do meu irmão, João, que ainda hoje coleciona. Recentemente encontrei num sebo – todo sebo que se preze tem que ter uma estante de Tex – o livro TEX NO BRASIL – O grande herói do faroeste, de G. G. CARSAN. Comprei sem pestanejar. A obra, fruto de uma análise criteriosa, traz curiosidades, estatísticas, relatos de leitores, memórias do autor e uma infinidade de informações sobre o personagem.  
 
Tex é um gibi que sobrevive por suas muitas qualidades. Na minha opinião, uma das principais é que nas aventuras pulp de antigamente, sobretudo, quando ambientadas no velho oeste, um mecanismo para gerar suspense e interesse era colocar o herói em risco de vida. Risco sempre falso, pois ele precisa sobreviver no final. Tex abre mão desse trunfo. Os protagonistas (O ranger Kit Carson, o índio Jack Tigre e o filho Kit Willer – parceiros do Tex) quase nunca tomam um tiro – assim como o cavalo Dinamite. Desse modo a revista assumiu a premissa de que eles são “imortais” e não correm riscos sérios. Com essa restrição, ela precisa gerar interesse de outras formas – a engenhosidade, inteligência, ou a persistência de Tex, por exemplo. Algumas histórias são excepcionais com toques de ficção científica e literatura fantástica, e extrapolam a estética do faroeste. 
 
Tex é, na verdade, um gibi italiano, criado por Giovanni Luigi Bonelli, e, curiosamente, é o personagem mais longevo que qualquer outro, inclusive americano, do gênero faroeste. O ranger muito provavelmente é o mais antigo personagem de HQ de faroeste do mundo – com publicação ininterrupta desde os anos 50. No Brasil sua publicação regular se iniciou em fevereiro de 1971 (tenho a revista número 1, “O Signo da Serpente”, em meu acervo. Talvez seja o item mais raro que possuo ao lado do álbum de figurinhas que foi lançado no Brasil no início dos anos 80) e permanece ativa até hoje. 
 
Segundo o pesquisador G.G Carsan, as razões do sucesso do personagem se dão por conta do tratamento retilíneo que baliza a publicação. Baseado em muito estudo e seriedade, as histórias trazem fatos históricos e ambientação bastante realísticas. Isso aliado a um time muito bom de roteiristas e desenhistas, sem distorções, distinguindo-se dos modismos que vêm e vão, driblando crises e não perdendo a identidade ao mudar os responsáveis pelos textos e desenhos. Daí a identificação permanente do leitor com o personagem.
 
Não leio mais os gibis do personagem tanto quanto eu queria, porém no domingo de manhã sempre será minha leitura preferida. Mantenho a coleção hoje por puro sentimentalismo e afeto. Costumava comprar Tex nas bancas de revistas, que infelizmente têm desperecido. Agora costumo comprar pela internet (é um jeito menos prazeroso, pois gosto de folhear, tocar a revistinha, sentir o cheiro peculiar do item raro descoberto) e nos sebos e livrarias. No Ceará, o maior colecionador de Tex que conheço é o poeta Antônio Carlos da Silva (Rouxinol do Rinaré). Vate do mais alto quilate, ele já publicou algumas aventuras do personagem em cordel, e sempre que nos encontramos nos eventos literários, é claro que falamos de literatura, mas sobretudo, falamos de Tex.

Bruno Paulino, escritor

Um comentário:

  1. Velhos gibis...motivo de tanta ternura. Fico me perguntando se a atual geração ainda os lê.

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