Sou um colecionador de Tex, Zagor e Ken Parker, tenho pilhas de revistas
na minha biblioteca (tudo desorganizadamente organizado). Ao lado dos romances
do Jorge Amado e do Paulo Coelho, Tex talvez seja a leitura mais marcante de
minha adolescência. Eu comecei a ler vorazmente o gibi por conta do meu irmão,
João, que ainda hoje coleciona. Recentemente encontrei num sebo – todo sebo que
se preze tem que ter uma estante de Tex – o livro TEX NO BRASIL – O grande
herói do faroeste, de G. G. CARSAN. Comprei sem pestanejar. A obra, fruto de
uma análise criteriosa, traz curiosidades, estatísticas, relatos de leitores,
memórias do autor e uma infinidade de informações sobre o
personagem.
Tex é um gibi que sobrevive por suas muitas qualidades. Na minha
opinião, uma das principais é que nas aventuras pulp de antigamente, sobretudo,
quando ambientadas no velho oeste, um mecanismo para gerar suspense e interesse
era colocar o herói em risco de vida. Risco sempre falso, pois ele precisa
sobreviver no final. Tex abre mão desse trunfo. Os protagonistas (O ranger Kit
Carson, o índio Jack Tigre e o filho Kit Willer – parceiros do Tex) quase nunca
tomam um tiro – assim como o cavalo Dinamite. Desse modo a revista assumiu a
premissa de que eles são “imortais” e não correm riscos sérios. Com essa
restrição, ela precisa gerar interesse de outras formas – a engenhosidade,
inteligência, ou a persistência de Tex, por exemplo. Algumas histórias são
excepcionais com toques de ficção científica e literatura fantástica, e
extrapolam a estética do faroeste.
Tex é, na verdade, um gibi italiano, criado por Giovanni Luigi
Bonelli, e, curiosamente, é o personagem mais longevo que qualquer outro,
inclusive americano, do gênero faroeste. O ranger muito provavelmente é o mais
antigo personagem de HQ de faroeste do mundo – com publicação ininterrupta
desde os anos 50. No Brasil sua publicação regular se iniciou em fevereiro de
1971 (tenho a revista número 1, “O Signo da Serpente”, em meu acervo. Talvez
seja o item mais raro que possuo ao lado do álbum de figurinhas que foi lançado
no Brasil no início dos anos 80) e permanece ativa até hoje.
Segundo o pesquisador G.G Carsan, as razões do sucesso do personagem se
dão por conta do tratamento retilíneo que baliza a publicação. Baseado em muito
estudo e seriedade, as histórias trazem fatos históricos e ambientação bastante
realísticas. Isso aliado a um time muito bom de roteiristas e desenhistas, sem
distorções, distinguindo-se dos modismos que vêm e vão, driblando crises e não
perdendo a identidade ao mudar os responsáveis pelos textos e desenhos. Daí a
identificação permanente do leitor com o personagem.
Não leio mais os gibis do personagem tanto quanto eu queria, porém no
domingo de manhã sempre será minha leitura preferida. Mantenho a coleção hoje
por puro sentimentalismo e afeto. Costumava comprar Tex nas bancas de revistas,
que infelizmente têm desperecido. Agora costumo comprar pela internet (é um
jeito menos prazeroso, pois gosto de folhear, tocar a revistinha, sentir o
cheiro peculiar do item raro descoberto) e nos sebos e livrarias. No Ceará, o
maior colecionador de Tex que conheço é o poeta Antônio Carlos da Silva
(Rouxinol do Rinaré). Vate do mais alto quilate, ele já publicou algumas
aventuras do personagem em cordel, e sempre que nos encontramos nos eventos
literários, é claro que falamos de literatura, mas sobretudo, falamos de Tex.
Bruno Paulino, escritor
Velhos gibis...motivo de tanta ternura. Fico me perguntando se a atual geração ainda os lê.
ResponderExcluir