terça-feira, 22 de outubro de 2024

Quixeramobiense ou Quixeramobinense: existe forma correta do gentílico?


Por Gabrielly Frutuoso

Sempre que se usa o gentílico para adjetivar os  nascidos em Quixeramobim, verifica-se certa confusão quanto à grafia e pronúncia do termo. A dúvida se dá entre as formas ‘quixeramobinense’ (com -n) e ‘quixeramobiense’ (sem -n). Outros municípios vivem o mesmo dilema da incerteza sobre seu adjetivo pátrio mais adequado, caso de Camocim, Ipaumirim e Jardim, para citar os mais próximos. Para esclarecer a questão, visitei obstinadamente importantes fontes do mundo acadêmico e literário.

Em rápida pesquisa em torno dos sufixos existentes na língua portuguesa, de pronto constatamos que a forma -nense não existe, mas apenas a forma -ense, sem o -n inicial. Mesmo assim, não é raro se deparar com o uso das duas formas – quixeramobinense e quixeramobiense – em correspondências e discursos oficiais no município, questão sobre a qual não há consenso, nem consolidação de uma forma padrão. Obras consagradas também registram as duas formas do gentílico. Em “Quixeramobim – Recompondo a História”, o mais completo documento histórico do município, o professor e historiador Marum Simão faz uso das duas grafias.

Outro intelectual de Quixeramobim, o professor, historiador e genealogista Fernando Câmara preferia a grafia ‘quixeramobiense’ em seus textos, tal como João Saraiva Leão, seu colega no Instituto do Ceará, que também optara pela mesma forma.

Além dos livros, consultei também o professor João Bosco Fernandes Mendes. O fundador da Academia Quixeramobiense de Letras, Ciência e Artes (AQUILETRAS) – aqui grafado com o sufixo -ense, sem -n. Ele diz que até algumas décadas atrás, não se usava 'quixeramobinense'. Mendes, que estudou latim no Seminário Salesiano de Carpina, Pernambuco – língua ancestral do português que falamos – aponta que o intelectual Ismael Pordeus, saudoso conterrâneo, usava uma terceira forma menos comum, com -m: ‘quixeramobimense'. 
 
Na fundação da Aquiletras, Mendes sugeriu a forma ‘quixeramobiense’ para batizar a instituição, sendo esta, para ele, a mais correta: “é a forma consagrada na língua, tanto que está registrada no dicionário Houaiss, o melhor – e mais amplo – da língua portuguesa, a meu ver.” Mas o impasse também ocorre nos dicionários. O Michaelis, por exemplo, apresenta as duas formas.

É preciso dizer que a forma ‘quixeramobiense’ não é tão consolidada assim. Para o professsor Marcus Oliveira, doutorando em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o sufixo -ense é o mais produtivo para a formação de gentílico a partir de topônimos (nome de lugar). Segundo ele, esse sufixo é inserido na palavra sem maiores alterações, como em 'aracajuense', 'amapaense' e 'amazonense'. Acontece que, em topônimos terminados e -m, há um processo de mudança da consoante final para -n, para que a nova palavra se adeque à pronúncia, sem perder as características fonéticas da palavra primitiva (no caso, a vogal nasal final). É o que acontece, por exemplo, em Belém > belenense. "Essa é a formação padrão e gramaticalmente mais aceita pelos registros de referência", afirma o professor carioca.
 
Diante da hesitação em torno do problema, segui adiante na busca por uma resposta. Ora, há uma forma correta para o nosso gentílico? Existe o errado que deve ser abolido? Em minha peregrinação para elucidar o caso, mantive contato com o professor de Língua Portuguesa, formado pela Universidade de São Paulo (USP), Caco Penna. Figura conhecida entre estudantes de concursos públicos, sobretudo aqueles que visam à carreira diplomática, Penna lançou mão do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) – que define a grafia correta das palavras na língua portuguesa no Brasil, tendo força de lei – para responder à minha indagação: “o VOLP registra as duas formas como corretas." E arrematou: "fim da ‘tetra linguística’ em Quixeramobim”.

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